Tomo aqui a liberdade de traduzir parte do artigo de Alan R. Gaby, médico especializado em Nutrição Médica, com formação em Bioquímica e em Medicina pelas universidades de Yale, Emory e Maryland. Nesse artigo, publicado em julho de 2022 ( “Is There an Epidemic of Research Fraud in Natural Medicine?.” Integrative medicine (Encinitas, Calif.) vol. 21,2 (2022): 14-18.), ele relata a sua crescente desconfiança com a literatura científica mais recente na área de nutrição humana, baseado em sua experiência de ter revisado, em quase 50 anos, mais de 50 mil artigos!
Infelizmente a resposta é sim, com forte predominância de artigos vindos do Egito, da China e do Japão e até do Irã. E fornece um rápido guia para orientar o leitor desavisado, em especial, no caso de comunicações de ensaios clínicos:
1. O estudo se origina de autor ou autores que publicaram um número enorme de artigos em curto espaço de tempo.
2. O número de pacientes incluídos é demasiado grande se colocado no contexto dos recursos disponíveis para os pesquisadores
3. O período de recrutamento é curto demais.
4. A submissão do artigo foi feita antes do término ou imediatamente após o término do recrutamento (mal dando tempo de compilar e analisar os dados)
5. Condução de ensaio randomizado duplo-cego sem qualquer evidência anterior da eficácia do tratamento em humanos (lembrar que este tipo de ensaio costuma ser muito caro para ser feito sem evidência prévia).
6. A magnitude do benefício é muito maior do que é geralmente observado em ensaios clínicos usando um ou dois nutrientes, apenas.
7. Não há fonte de financiamento ou informa que foi financiado pelo próprio pesquisador.
8. Aparecem questões éticas, como por exemplo o fato de participantes não terem acesso a medicação reconhecidamente efetiva.
9. Características basais do grupo de estudo não são plausíveis.
10. Estudo conduzido por estudante e usado para entrega de sua monografia de conclusão de curso
Há muitos detalhes suculentos do seu trabalho de detetive para determinar se, de fato, há muitos artigos nessa área que possam ser identificados como fraudulentos. Mas. é sempre importante lembrar que a grande maioria dos pesquisadores não pratica este tipo de malfeito, uma questão vital numa área de grande visibilidade na mídia e que afeta diretamente o nosso dia a dia. Boa leitura!
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