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Anna Goldberg

IA na caça de ciência mentirosa e malfeita



Nas duas últimas semanas, à procura de informação relevante no assunto da integridade científica e qualidade de governança na pesquisa, me deparei de novo e de novo com notícias dos recentes instrumentos disponíveis no mercado usando inteligência artificial (IA). Essa área é certamente, como se diria em inglês, um " game changer" na condução da ciência. A seguir exemplos que considero de interesse de toda a comunidade acadêmica.


A empresa Dimensions (https://www.dimensions.ai), uma organização que oferece serviços de informação digital na forma de softwares proprietários, tem na sua base de dados, informação originária de 140 milhões de publicações, 800 mil ensaios clínicos, 260 milhões de citações online, 160 milhões de patentes, 7 milhões de financiamentos e 29 milhões de fontes de dados! Ufa! Oferece informação de qualidade em assuntos que variam de marketshare em drug discovery, passando por auxílio na elaboração de manuscritos e busca na literatura e até um módulo voltado para monitorar a qualidade e integridade dos dados nas publicações científicas. As próprias editoras estão usando a IA para combater o plágio e a manipulação de imagens. As avaliações indicam que em torno de 4% das imagens publicadas foram manipuladas de alguma maneira não explicada. David Sholto, usando o aplicativo fornecido pela empresa Imagetwin (Https://imagetwin.ai) põe esse número em nível bem mais alto (https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2023.09.03.556099v2). Essas bases de dados entre tantas outras apontam para os paper mills e as revistas predatórias como os maiores responsáveis pela explosão de ciência malfeita, mentirosa e potencialmente danosa.


Jeffrey Beall, sim, o próprio que elaborou aquela famosa lista de revistas predatórias, ao ser entrevistado por professores da Universidade Federal de Santa Catarina (https://www.scielo.br/j/eb/a/WHP6PvVBkrh647NtzHdv5Gy/?format=pdf&lang=pt), declarou que acredita que não há conserto possível desta situação, ou seja, essas revistas continuarão por ai. Aprender a conviver e identificar essas revistas, não ceder às tentações e usar os modernos instrumentos de detecção e garantia de qualidade, é o caminho. Na esteira desse problema já surgem os programas de rastreamento. É o caso do Papermill Alarm da empresa Clear Skies recentemente incorporada ao STM Integrity Hub (STM Integrity Hub - STM (stm-assoc.org). STM é uma organização transnacional voltada para integridade da comunicação científica em todos os seus aspectos e que reúne as grandes editoras como seus membros e usuários. A editora Wiley está desenvolvendo seu próprio serviço de checagem de manuscritos a busca de falsidades, frases "torturadas" e plágios de textos, autoria repetida ou irregular, uso indevido e manipulação de figuras, uso de inteligência artificial tipo ChatGPT e demais aplicativos e toda a sorte de artimanhas utilizadas pelas paper mills, e, eventualmente, também nos artigos de revistas predatórias.


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